25 de ago. de 2011

Gilvander Luís Moreira

No dia 16 de agosto de 2011, à tarde, participei de mais uma Grande Assembléia Geral das/os professoras/res da Rede Estadual de Educação do Estado de Minas Gerais, na Praça da Assembléia Legislativa, em Belo Horizonte, MG, Brasil. Essas trabalhadoras/se estão em greve há 70 dias (desde 08/06/2011) e decidiram manter a greve por tempo indeterminado. Era um mar de educadores! Cabe então a seguinte pergunta: essa greve é justa ou é condenável até mesmo em vista da longa duração?
Vejamos. Em Minas, há 3.700 escolas estaduais. Professor/a da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais, com nível médio de escolaridade ganha, como vencimento básico, R$369,00; e com licenciatura plena, R$550,00. Diz o governo: “Além do vencimento básico, há gratificações e subsídios.” De acordo com o Ministério da Educação, o Piso Salarial Nacional, instituído pela Lei Federal 11.738/08, é, hoje, R$1.187,00 e, de acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE -, deveria ser R$1.597,87. Relatório técnico do Tribunal de Contas do Estado comprovou que o Governo de Minas não investe o percentual constitucional de 25%[2] em educação pública. Na ADIN[3] 3.106, o Supremo Tribunal Federal – STF - reconheceu a inconstitucionalidade da compulsoriedade da contribuição descontada no contracheque das/os professoras/res de 3,2% (assistência médica) do IPSEMG[4]. Em 2001, o Estado de Minas investia 30,57% em educação e em 2010 este percentual caiu para 16,08%.
O STF, em 06/04/2011, ao julgar a ADIN 4.167 definiu a composição do Piso Salarial: vencimento básico inicial da carreira do professor de nível médio de escolaridade, excluídas quaisquer vantagens e gratificações e deve ser aplicada uma proporção aos demais níveis e cargos da carreira. Logo, o governo de Minas está desrespeitando a Lei Federal 11.738/08, pois não está pagando o Piso Salarial Nacional.
A luta dos professores é pelo Piso Salarial Nacional: se não R$1.597,87, pelo menos R$1.187,00. Piso é piso – o mínimo -, não é teto. O governador de Minas, Sr. Antonio Anastasia, (PSDB + DEM) insiste em manter – fala até em aumentar – o subsídio, mas subsídio é subsídio, é ajuda complementar que pode ser retirada a qualquer momento.
O ponto dos grevistas foi cortado e o Governo mandou contratar professores, de forma precária, para substituir os educadores no 3º ano do segundo grau.
Em vez de investimento em políticas sociais públicas - moradia popular, reformas agrária e urbana, saúde pública, educação pública, preservação ambiental, economia popular solidária, transporte coletivo público, os governos Federal e Estadual estão canalizando os recursos públicos para a repressão, em nome da defesa social. Prisões e mais prisões estão sendo construídas, verdadeiras masmorras, campos de concentração. A cada dia cegonhas lotadas descarregam viaturas policiais. Policiais por todo lado. É a militarização da sociedade. Segue-se um projeto de encarceramento de massas – pobres, negros e jovens.[5] Em João Pinheiro , MG, cidade de 70 mil habitantes, por exemplo, após a construção de uma penitenciária com capacidade para 193 presos, muitos professores da Rede Estadual de Educação fizeram concurso para serem agentes penitenciários. Um professor, que a contragosto se tornou agente penitenciário, disse: “como professor não tinha mais condições de manter minha família. Como agente penitenciário, ganho acima de dois mil reais por mês.”
A greve está se fortalecendo por vários motivos. O Sindicato dos Trabalhadores da Educação – SINDUTE – está muito bem organizado. A remuneração injusta está causando grande sofrimento para as/os educadoras/res e para as suas famílias. Dezenas de outros sindicatos e dezenas de movimentos sociais populares, do campo e da cidade, engajaram na luta dos professores. Pelo exposto acima, percebo que a greve das/os professoras/res da Rede Estadual de Educação de Minas é justa e legítima.
Governador Antonio Anastasia, o ano letivo de 2011 dos estudantes será perdido? Se isso acontecer está claro que a responsabilidade não será dos professores que lutam justamente. A culpa é do Governo de Minas Gerais, contraditoriamente representado por um professor!
Belo Horizonte, 18 de agosto de 2011

22 de ago. de 2011

Ausência...


Eu deixarei que morra em mim o desejo
de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa
de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque
em meu ser está tudo terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados

Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
Eu deixarei ... tu irás e encostarás
a tua face em outra face

Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei a minha face
na face da noite e ouvi a tua fala amorosa

Porque meus dedos enlaçaram os dedos
da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência
do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos portos silenciosos

Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.



Vinicius de Moraes

O discurso...

Eu devo fazer, e nos que aqui terei de fazer, durante anos talvez, gostaria de neles poder entrar sem se dar por isso. Em vez de tomar a palavra, gostaria de estar à sua mercê e de ser levado muito para lá de todo o começo possível. Preferiria dar-me conta de que, no momento de falar, uma voz sem nome me precedia desde há muito: bastar-me-ia assim deixá-la ir, prosseguir a frase, alojar-me, sem que ninguém se apercebesse, nos seus interstícios, como se ela me tivesse acenado, ao manter-se, um instante, em suspenso. Assim não haveria começo; e em vez de ser aquele de onde o discurso sai, estaria antes no acaso do seu curso, uma pequena lacuna, o ponto do seu possível desaparecimento.

15 de ago. de 2011

Algumas curiosidades de Platão...


Em 428 a.C. (ou 427 a. C., não se sabe ao certo), pouco tempo após a morte de Péricles (estadista ateniense; foi durante o seu período que Atenas viveu o auge da sua democracia), nasce em Atenas aquele que por muitos é considerado o maior filósofo da Antigüidade: Platão. Sua família era muito tradicional, sendo muito de seus membros pessoas eminentes na política. Só para citar um exemplo, ele era descendente de Sólon, que foi um dos maiores legisladores de Atenas. Como era muito comum entre os atenienses de seu tempo, Platão desde cedo se interessou pela política. Ainda em sua juventude, Platão conhece e torna-se um discípulo de Sócrates, por quem foi profundamente influenciado em sua filosofia.

Quando, em 399 a.C., Sócrates é julgado e morto, aprofunda-se em Platão a descrença nos rumos políticos da democracia ateniense (essa crítica à democracia ateniense foi uma de suas preocupações centrais durante a sua vida). Após a morte de seu mestre, Platão resolve viajar. Vai à Magna Grécia (que hoje seria o sul da Itália) onde conhece Arquitas de Tarento, um sábio- governante que inspira em Platão um modelo de governante para a solução dos problemas políticos. Ainda durante essa viagem, Platão vai a Siracusa, cidade-Estado localizada na Sicília, onde conhece e torna-se amigo de Dion, cunhado de Dionísio, tirano da cidade. É nessa cidade que Platão tenta aplicar suas idéias sobre política. Mas nada consegue. Ainda durante essa viagem, Platão vai ao Egito, mas o que aconteceu durante essa jornada é praticamente desconhecido. É nessa época que Platão escreve seus primeiros Diálogos e, provavelmente, começa a escrever República, uma de suas maiores obras. Os Diálogos dessa fase são considerados "socráticos", como a Apologia de Sócrates e Eutífron.

Por volta de 387 a.C., já em Atenas, Platão funda sua Academia, que era um instituição de ensino que concebia o conhecimento como algo vivo e mutável e não como algo a ser decorado e passado adiante (bem que as escolas atuais poderiam se inspirar nessa concepção platônica de conhecimento e ensino). A fundação da Academia é considerada um marco na história do pensamento ocidental. Durante vinte anos Platão dedica-se ao ensino e às suas obras. Desse período são os Diálogos considerados de "transição", como Fédon, Banquete, República, Fedro. Essa fase é considerada uma transição da filosofia socrática de Platão para uma filosofia mais pessoal, mais desvinculada de seu mestre.

Em 367 a.C., Dion chama Platão de volta à Siracusa: Dionísio I havia morrido e seria sucedido por Dionísio II. Platão vê nessa situação a chance de mudar o rumos políticos da cidade, ou seja, preparar o novo tirano para expulsar os cartagineses da Sicília. Essa segunda viagem de Platão foi fracassada, pois ele não consegue realizar seus intentos junto a Dionísio II. Ainda mais uma vez Platão seria chamado a Siracusa e mais uma vez sua viagem seria fracassada.

Acabada sua tentativa de intervir na vida política de Siracusa, Platão retorna à sua Academia para retomar a produção de sua obra. Essa última fase de sua obra pode ser considerada a fase do amadurecimento de sua filosofia, além de definir, definitivamente, as fronteiras entre o seu pensamento e o de seu mestre Sócrates. É nessa fase que podemos ver sua visão do mundo das idéias em sua plenitude. (Só para localizar quem está lendo essa biografia e nunca soube nada sobre a filosofia de Platão, cabe aqui uma rápida explicação: o mundo das idéias seria o lugar da onde tudo que conhecemos teria nascido, só que esse mundo é invisível. Tudo aquilo que podemos ver é somente uma cópia imperfeita desse mundo das idéias). São dessa fase obras como Timeu, Crítias e a inacabada Leis.

Platão morreu em 348 a.C. (ou 347 a.C.), cerca de dez anos antes de Felipe da Macedônia conquistar a Grécia. Isso mostra que talvez ele estivesse certo em criticar a democracia e a política ateniense de uma maneira geral, mas isso não cabe a nós julgarmos. Mas um dos maiores ensinamentos que ele nos legou é justamente um que mais falta em nossos dias: para Platão, o conhecimento constrói-se a partir de uma junção entre intelecto e emoção. Para ele, a ciência, o conhecimento são frutos de inteligência e amor.