25 de set. de 2013

As três peneiras


Augustus procurou Sócrates e disse-lhe:
-Sócrates, preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que contaram a respeito de...
Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou:
-Espere um pouco, Augustus. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
-Peneiras? Que peneiras?
-Sim. A primeira peneira, Augustus, é a da verdade.
Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?
-Não. Como posso saber? O que sei foi que me contaram!
-Então suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira: a bondade. O que vai me contar gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
-Não, Sócrates! Absolutamente, não!
-Então suas palavras vazaram também a segunda peneira. Vamos agora ã terceira peneira: a necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passa-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?
-Não, Sócrates... Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar.
E Sócrates, sorrindo, concluiu:
-Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e formentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz!

                Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passa-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras, pois pessoas sábias falam de ideias; 
pessoas comuns falam sobre eventos; pessoas medíocres falam sobre pessoas.