30 de mar. de 2011

Eu me lembro do vestido que flutuava como uma onda no chão sob seus joelhos

Pedro estava na cama, entre livros e revistas. Dormira lendo A Praia, um romance interessante no qual um casal inglês tem problemas na lua de mel no começo dos anos 60, antes da pílula e da liberação sexual. Era cedo para ele, pouco mais de oito da manhã. Desde sempre Pedro fora um notívago, capaz de atravessar com facilidade uma madrugada numa redação. Tocou seu celular, e pelo toque personalizado ele sabia quem era.
“Carol?”
“Pedro. Ouve.”
Chegaram aos ouvidos de Pedro sons difusos de uma canção. Mas Pedro a reconheceu. Era um clássico de Donna Summer, MacArthur Park.
“Ouvi essa música e tive que ligar pra você, Pedro. Não é um pretexto. Eu simplesmente tinha que falar com você. Essa música. Puxa. Ela é a nossa história.”
Carol. A bela, filantrópica, inteligente e calculista mulher de um banqueiro que preferira o casamento a Pedro. Pedro entendera e apoiara a decisão de Carol, ainda que dolorida para ele. Um jornalista, ele era apenas um jornalista. Que futuro ele poderia oferecer a uma mulher como Carol, acostumada a uma vida cara? Uma vez, quando ele viu alguma dúvida nos olhos verdes e úmidos de Carol, lembrou a ela uma cena de Casablanca. Ilse, a heroína do filme, estava em dúvida entre o amor de sua vida, Rick, um homem desajustado que tocava um bar, e o seu marido, Victor, um ativista anti-Alemanha, no apogeu do nazismo. Rick diz a ela, vivida por Ingrid Bergman em sua deslumbrante beleza, para ficar com o marido. Era um cínico, um bêbado, mas mais que tudo um idealista que fingia não crer em nada. Rick sabia que era importante na luta contra o nazismo que Victor estivesse firme e resoluto na alma, e sem a mulher isso não aconteceria. “Você deve ir com ele”, disse Rick. “Se não for, vai-se arrepender, talvez não hoje e nem amanhã, mas em breve e para sempre.” Em breve e para sempre. Pedro gostava desta fala de Rick. Com essa fala ele convenceu Ilse a seguir com o marido.
“Por que essa é a nossa história?”
“A primeira linha, Pedro.”
Ele não se lembrava da primeira linha. Ela cantou para ele. Tinha uma voz não de cantora, mas agradável e afinada.
“Spring was never waiting for us, dear. It went one step ahead as we followed in the dance.” Carol estava certa. A primavera jamais esperara por eles, esteve sempre um passo adiante.
“Nós. Nós dois. Pedro. Nós não vivemos a primavera da nossa história. Jamais alcançamos. E eu quis tanto, Pedro. Você talvez ache que eu estou falando isso só porque me sinto culpada. Não é isso, Pedro?”
Não. Pedro acreditava na sinceridade de Carol.
“Pedro. Eu vi que você era feito para mim no dia em que você me deu um beijo no rosto depois de entrevistar o meu marido lá em casa. O arrepio que eu senti. Ah, Pedro, você pensa que isso acontece sempre na vida de uma mulher?”
Pedro se lembrou de uma expressão que lera num romance de Norman Mailer. Há uma única vez na vida de uma mulher em que um cara entra numa sala e parece a ela que um macaco está se mexendo em seu estômago.
“Você não errou, Carol. Foi só o tempo que errou. Cheguei na hora errada. A festa era à noite, e eu cheguei de manhã.”
Agora ele se lembrava quase que por inteiro da letra da música que fizera Carol telefonar para ele. Um verso parecia feito para Carol. I recall the yellow cotton dress floating like a wave on the ground beneath your kness. Me lembro de seu vestido amarelo de algodão flutuando como uma onda no chão sob seus joelhos. Uma vez foram ao Parque do Ibirapuera tomar sorvete na barraca de um italiano mal-humorado. Num determinado momento Carol se ajoelhou na grama, olhou para o céu, fechou os olhos e respirou fundo, como se estivesse meditando ou rezando. Seu vestido não era amarelo, e nem de algodão, mas também ele flutuou como uma onda ali no Ibirapuera.
“Pedro. Tem um verso que eu não sei se é uma metáfora, ou se é literal. Someone left the cake out in the rain. I don�t think that I can take it cause it took so long to bake it, and I�ll never have that recipe again. O que você acha?”
Alguém deixou o bolo na chuva. Não sei se vou suportar isso, porque me custou tanto fazer o bolo, e a receita está perdida para sempre. Mais ou menos isso. O que se perdera: o bolo mesmo num passeio a um parque, ou a receita de um amor único? O que o autor quisera dizer? Pedro preferia a hipótese romântica.
“Uma imagem. Quer dizer, acho que é.”
“Nós. Nós perdemos o bolo, Pedro?”
“Por que tantas perguntas difíceis, Carol? Por que você não me pergunta apenas se estou feliz?”
“Você está feliz, Pedro?”
“Sim, estou feliz. Feliz da melhor maneira possível.”
“Melhor maneira possível?”
“Brincadeira. Apenas estou feliz.” Pedro estava citando uma frase da peça Anjos na América. Uma mulher diz que está feliz da melhor maneira possível. “De mentirinha”.
“Pedro?”
“Carol?”
“A última frase. Eu também sempre vou me perguntar por quê.”
Ele riu. A frase final de MacArthur Park. After all the loves in my life, you�ll still be the one, and I�l l ask myself why.” Depois de todos os amores de minha vida, você será sempre o maior, e eu me perguntarei por quê. Essa última pergunta era pungente. Por que um amor fracassa? O tempo sempre erra, como acontecera com Carol e Pedro?
“Eu também, Carol. Eu também vou me perguntar sempre por quê.”
“Pedro. Tenho que desligar. Vai começar uma reunião aqui na minha empresa. Jura que nunca vai me esquecer. Mesmo que você saia com cem mulheres. Jura que nunca vai me esquecer.”
“Como eu poderia te esquecer, Carol? Aquele vestido flutuando como uma onda no chão sob os seus joelhos dobrados. Como eu poderia esquecer você, Carol?”

Fabio Hernandez

24 de mar. de 2011

amigo de ex...

Eu confesso: não sou amigo de ex-namoradas. Ao contrário de outros caras, não faço o menor esforço para manter a amizade de quem saiu da minha cama, dos meus pensamentos e da minha agenda. Não é por raiva, não é por magia, não é por revanche. É simplesmente por desinteresse. O elo que nos uniu foi rompido na separação. Aquela vontade de estar junto, de compartilhar as pequenas coisas do cotidiano, de trocar um olhar furtivo e cúmplice no meio da multidão perdeu-se. Torço e muito por todas elas, deixo claro. Mas não sobra base nenhuma em cima da qual construir uma amizade. Quem já foi tudo para alguém é melhor que se transforme em nada, e não em pouco.

Me avisaram...


Certa vez me disseram  o seguinte. Mantenha distância de mulheres que usem muito as palavras “eu, meu, minha”. Prefira as que falem “nós, nosso, nossa”. Algumas vezes não segui esse conselho. Me dei mal. Topei com mulheres egocêntricas, para as quais pouca coisa importava além delas mesmas.

Escrava que manda...


A mais nobre ação de uma mulher amorosa está em perceber o que interessa a seu homem e ajustar-se a isso. É um ato em que a mulher se dá, e ao mesmo tempo ganha com isso. Ganha um amante ardoroso, reconhecido, pouco disposto a investir em outras mulheres. A fêmea que finge escravizar-se a seu macho conquista, na verdade, um escravo. Foi assim que Cleópatra arrebatou César e Marco Antônio. Foi assim que Helena de Tróia derrubou Páris e Menelau.

23 de mar. de 2011

Recomeço...

“Perdida, para sempre perdida, mas tão viva, tão linda, batendo os saltos na cidade da minha memória e da minha saudade”
 Um trecho de um dos livros de Rubem Braga que li antes de postar algo parecido, mas que náo consegui expressar de forma tão exata e fiel como esta.
Me enquadro mais como um escritor barato, que tenta relatar partes de sua vida de forma indireta e imperfeita. Mas real de certa forma, regado de lágrimas e sorrisos retirados do "espetáculo" que é viver em um mundo de aparências e falta de profundidade.

Fique com quem faz você rir (Tio Fábio)


Tio Fábio, um falecido homem sábio do interior, Deus o tenha, sempre gostou de circo. Um dia, quando eu ainda era garoto, ele me levou ao circo. E apontou, com seus dedos amarelados pelo cigarro, o palhaço que me fizera gargalhar. Pense nesse palhaço quando for escolher as pessoas para ter ao seu lado. Amigos, namoradas. É vital ter por perto pessoas que sorriam e nos façam sorrir. (Tio Fábio não era homem apenas de teoria. Na vida prática, tinha, como o palhaço daquele circo tão distante no tempo, uma notável capacidade de fazer os outros rirem.)
Então reflito sobre os relacionamentos amorosos. Eles são tão mais leves, tão mais gostosos quando temos conosco alguém que traga a luz exuberante dos sorrisos genuínos. (Digo genuínos porque não existe nada pior que o sorriso hipócrita e fabricado, como os dos políticos.) E os relacionamentos podem ser um tormento quando quem está ao nosso lado não sabe rir. O ideal é termos uma palhaça como namorada, mulher, manteúda ou que você quiser.
O sorriso é uma atitude. Mostra, quase sempre, um espírito superior, de gente capaz de lidar, com dignidade e bravura, com as adversidades da vida. (Jamais vi uma foto do Dalai Lama em que ele não aparecesse sorrindo. Paz genuína interior ou dissimulação? Alguém tem um palpite?) Assim como o rosto fechado e sombrio é quase sempre sinônimo de pessoas tomadas pelo síndrome da vítima, a compulsão de pôr a culpa de tudo nos outros, a evasão total e descarada de responsabilidade. É aquela história: o mundo me persegue. Ninguém me compreende. Deus criou tudo apenas para que eu fosse sacaneado. Para estas pessoas, Sartre criou a frase definitiva: o inferno são os outros.
O sorriso é, repito, uma atitude. E também uma virtude. Como toda virtude, tem que ser cultivado. São absolutamente excepcionais as pessoas cuja alma já nasce sorridente. Para nós, outros, os chamados normais, sorrir para a vida é fruto de um esforço cotidiano, um treinamento incessante para não ver os fatos sob ângulos negativos.
Um dos livros mais admirados por Tio Fábio (quantas vezes ele tentou fazer-me ler) traz uma passagem de Sêneca, filósofo estóico de quase 2000 anos atrás. Uma passagem sublinhada por Tio Fábio fala de um filósofo que perdeu todos os seus bens no naufrágio. A reação do sábio: É que o destino quis que eu filosofasse mais desembaraçadamente.  (Admiro a disciplina de Tio Fábio de ler livros sempre acompanhado de lápis e caneta. Tentei algumas vezes, mas tropecei em minha completa falta de método. Quem sabe um dia.)
Cercar-se de palhaços foi o conselho que Tio Fábio me deu há muitos anos. Nem sempre fui bem-sucedido. Ou nem sempre dei a devida atenção a esse conselho. Sofri e levei sofrimento e aqui cometo a ousadia de vir fazer um acréscimo à frase de Tio Fábio. Não basta se cercar de palhaços. É preciso que sejamos palhaços também. Receber risadas é bonito, mas mais bonito ainda é dá-las.
Você sabe que uma relação está morta quando se acabam os risos. Um romance saudável tem a estridência irresistível e espontânea das gargalhadas. Pode acontecer que os dois tenham se esquecido de como dar risada. E então vale a pena o esforço de se lembrar. Mas, se você tentar devolver a alegria a uma relação que se tornou pesada e não conseguir nada além de queixumes e lamúrias, é melhor desistir. Não do sorriso, nem da alegria e do amor, mas da relação. Só continue se você gostar do sofrimento. Para quem acredita que o propósito da vida é a felicidade, não há saída se não respirar fundo e cair fora, com um sorriso de preferência.

18 de mar. de 2011

O bom da ciência não ser absoluta...


Algumas pesquisas são simplesmente lastimáveis.
Uma recente mereceu repercussão mundial, e não podia ser mais obtusa. Segundo a pesquisa, o choro feminino tira o ímpeto do homem. Desanima. A explicação científica seria o cheiro da lágrima.
Como a ciência ou pseudociência  pode ser estúpida.
A mulher que chora é a mulher mais atraente que pode existir. Ela está em sua condição mais pura, Frágil, dependente, vulnerável.
Ávida pelos braços protetores  de seu homem e depois pela penetração redentora.
Se o cheiro da lágrima tem alguma coisa que pode não ser excitante, o gosto salgado compensa amplamente. Você beija a mulher chorosa e é como se estivesse no mar, com aquela sensação de sal libertadora.
A lágrima do homem seca a minha porque é sinal de covardia, como disse Sêneca.
O homem fica muito feio ao chorar. Fato.
Mas a lágrima da mulher é um afrodisíaco infalível, não importa o que a ciência possa dizer em sua ilustre, petulante ignorância.

16 de mar. de 2011

Descobrindo...o incoberto

Adorno, Theodor
O jazz, a música dodecafônica, o teatro engajado e a literatura realista foram alguns dos objetos de reflexão escolhidos por Adorno para denunciar a mercantilização que atinge a arte contemporânea.
Theodor Wiesengrund Adorno nasceu em 11 de setembro de 1906 em Frankfurt-sobre-o-Meno, Alemanha. Filósofo e crítico musical, estudou composição em Viena com Alban Berg, uma das figuras que mais contribuíram para o amadurecimento da música atonal. Foi professor em Frankfurt, em cuja universidade doutorou-se, e nessa cidade participou, em 1924, da fundação do Instituto de Pesquisas Sociais. Emigrou para a Inglaterra em 1933, a fim de escapar à perseguição movida contra judeus pelo nacional-socialismo, e em 1937 foi para os Estados Unidos, onde colaborou decisivamente com o Instituto, reconstituído por seus fundadores na Universidade de Columbia.
O Instituto de Pesquisas Sociais, mais conhecido como Escola de Frankfurt, constituiu o núcleo de uma linha original de pensamento filosófico-político desenvolvido por Walter Benjamim, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Wilhelm Reich, Jürgen Habermas e Adorno. A teoria crítica proposta por esses pensadores se opõe à teoria tradicional, que se pretende neutra quanto às relações sociais. Ela toma a própria sociedade como objeto e rejeita a idéia de produção cultural independente da ordem social em vigor.
O conceito de "indústria cultural" foi criado por Adorno para designar a exploração sistemática e programada dos bens culturais com finalidade de lucro. A obra de arte produzida e consumida segundo os critérios da sociedade capitalista se rebaixa ao nível de mercadoria e perde sua potencialidade de crítica e contestação.
Fundamentado na dialética de Hegel, Adorno imprimiu um conteúdo sociológico a seus escritos filosóficos e musicais. Dessa forma, produziu algumas das obras capitais do pensamento estético, como a Dialéktik der Aufklärung (1947; Dialética do esclarecimento), em colaboração com Horkheimer, a Philosophie der neuen Musik (1949; Filosofia da nova música) e a inacabada Ästhetische Theorie (1970; Teoria estética), na qual trabalhou até a morte.
Adorno regressou à Alemanha em 1949, retomou a atividade docente e participou intensamente da vida política e cultural do país. Antes de sua morte em Visp, Suíça, em 6 de agosto de 1969, teve destacada e polêmica participação nos movimentos estudantis que sacudiram a Europa a partir de maio de 1968.

Aos que entendem a minha paixão pela música e filosofia, me senti na obrigação de postar essas informaçoes preciosas, na tentativa de atiçar curiosidades melhorando assim a visualização dessa contaminação capitalista, que até na arte possui suas vertentes venenosas, ou uma aula chata que dependendo dos pontos nos trabalhos e finalidades lucrativas, incentivaria o interesse e a busca pela verdade, que as vezes, náo é nada lucrativa por isso é deixada de lado.

11 de mar. de 2011

Conselhos...

O doce não seria tão doce sem o amargo...

Meu incentivo vem de cima e náo das pessoas que dizem o que náo vivem, pois grandes conselhos precisam ser seguidos e náo somente ditos. Somos eternos transformadores de nós mesmos, precisamos apenas enchergar de outra forma, as vezes dando um passo pra traz e se enchergar da forma que desconhece à si mesmo.

Funcionalidades...

A imensidão dos quartos de hotéis, as estradas que vão para todos os lugares, os enormes vãos de concreto das salas de embarque dos aeroportos, os toques de celular, as poltronas, os carrões, tudo isso pode ser entendido como um simples mecanismo de escape da solidão, representada por um solitário drinque bebido em um bar vazio, uma insônia em uma enorme cama vazia, em direção a uma vida sem viço onde a correria do cotidiano serve apenas para nos lembrar o quão a nossa vida se esvai pelos nossos dedos, como grãos de areia em uma praia isolada e distante.

Desculpem o pessimismo, mas o envelhecimento traz, além de sabedoria, medo, tristeza e desesperança. Aliás, essa última sempre foi minha companheira, e sinto que ela vem se agigantando nos últimos tempos, devido aos valores sociais que estão intrissecamente inseridos nas soluções modernas cotidianas, desejavéis por se transformar em sonhos induzidos. Encontros e desencontros, sobre o quanto a vida pode ser fútil, e o quanto é insustentável um projeto existencial baseado na insuportável leveza do ser principalmente, para se refletir sobre a nossa atual condição existencial. Sobre como um sem número de indivíduos constrói as suas vidas a partir do mais puro e simples hiato, dos interstícios entre as inúmeras ausências que teimam em aparecer em nosso horizonte de expectativas. 
Nos perdemos tentando nos encontrar ou encontrar algum motivo forte o bastante para continuar vivendo nesse mundo de loucos e analfabetos funcionais.

Nascedouro

Nascedouro
Abrindo os olhos pra tudo que brilha, tudo que brilha
Mas nem só de ouro, nem só de ouro
Acende a vida e inicia o grande drama
Apressado e sem ensaio
Sangrando uma vez por dia e nascendo de novo
Aprendendo no jogo
E ainda digo que
Que nem só de ouro, nem só de ouro
É preciso pra viver
Ladeira descendo e ainda dizer
Quem não vai torcer
Pro coração bater
Dá-lhe viver!
Dá-lhe viver!
E quem não vai torcer
Pro coração bater
Dá-lhe viver!
Dá-lhe viver!

Composição: Nação Zumbi

4 de mar. de 2011

Dualismo dos sentimentos...

Hoje acordei não querendo acordar, sem forças para levantar, pensando em como mudar muitas coisas da minha vida, mas naó sei como defini-las, nem mesmo dicernir o que cortar e mudar, ai pensei em uma frase maravilhosa q ouvi uma vez "AS COISAS FINDAS, MUITO MAIS DO QUE LINDAS, ESSAS SIM FICARÃO". Ai decidi que náo usarei muito a razão, nem posso me basear somente na emoção, decidi deixar rolar as coisas e tentar perceber as que ainda vão ficar. O problema é que existe um sentimento muito gostoso, como um leve sopro do vento em dias de calor, que move sempre uma tentativa de encontra-la mesmo nos dias frios, tristes, onde as razões e as emoções se perdem deixando lugar para o vazio da existência, que logo desaparecerá diante desse imenso sentimento que ainda esta construindo suas bases fortes, mas logo um grande temporal está por vir e perderei vc de vez. Não por merecer, mas por ser completamente injusto meu sonho não se materializar e nosso amor por fim acabar.
A chuva agora já passou, restando apenas Eu e as cicatrizes das coisas findas que ainda doem, mas que terei de enfrentar.
Agora vou me levantar do meu esconderijo de lágrimas, me molhar nas águas que dizem ser puras (chuveiro), até me recompor para sair do meu esconderijo e melhor estar em outro lugar.

2 de mar. de 2011

Serena, isenta, fiel.

Sede assim — qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens. 

Cecilia Meireles

1 de mar. de 2011

Afago...



Estar embriagado de anestesias mentirosas me fazem ainda estar aqui e não lá. Lá, onde o descanso existe.
Ah, a vida tem me dado muito tapa na cara. E enquanto eu não relaxar e deixar de me comportar como um animalzinho adestrado, perfeccionista, mais e mais serei esbofeteado.
Mas de algum jeito, isso tem sido bom. É só agora que eu aprendo a entender sobre falhas e sobre ser humano. Sobre tolerância e flexibilidade. Acho que sempre fui muito rígido, coerente com meus "tão elevados princípios".
E pelo jeito, a melhor coisa na vida é não ter princípio, é não pensar, é não se importar com o todo. O egoísmo santifica. A incoerência salva. E é isso que tento fazer, ser egoísta e me dar prazer.
Ando comendo sucrilhos, assistindo desenhos animados e deixando meu cérebro mofar.
Quanto mais leguminoso me torno, mais inteiro eu fico. O meu agora tenta ser um palavrão. Uma ordem qualquer de: dane-se o mundo cheio às tampas. Dane-se África, Nordeste, Oriente Médio, Efeito Estufa, Guerra Cambial, Heroísmo, Dinheiro, Sentido pra vida...
O criticismo só tem me levado à revolta, à angústia. E isso tem me deixado tão doente!
Não ensine seus filhos a pensar. Não os estimule mais. Converta-os em ovelhinhas e pronto! A felicidade deles estará garantida e você nunca precisará encher as gavetas deles de remédios pra cabeça, pra alma.
Acho que nunca estive tão lúcido, como estou agora, sabe?
Entendendo isso tudo e ficando revoltado por eu ser revoltado, acho que consigo um pouco de paz. E a paz significa: não pensar, não gastar energia tentando conectar tudo, tentando encontrar sentido, harmonia nesse caos.
A infelicidade fica longe quando aceito, quando digo: tanto faz. E a ausência dessa amargura emocional faz tudo valer mais e a ter mais gosto.
Minhas nuvens densas passaram. Agora só me resta ter humildade de aceitar que NUNCA vou poder explorar o céu inteiro, por mais que a visibilidade seja ótima.
Espero mais notícias de mim mesmo.